A pouco mais de uma semana de deixar a presidência do Corinthians, Andrés Sanches mistura cansaço, satisfação e euforia. No último domingo, o dirigente comemorou como uma criança no gramado do Pacaembu o último e principal título de sua gestão, amenizando a dor por não ter conseguido a tão sonhada Libertadores. Foram quatro anos de uma administração polêmica, mas que profissionalizou o futebol do clube mais popular de São Paulo e abriu o caminho para um futuro de sucesso.
– Vamos ser um dos clubes mais estruturados e ricos do futebol mundial – cravou.
Da terra arrasada que encontraram em 2007 após a queda do ex-mentor Alberto Dualib, Andrés e sua cúpula iniciaram a era mais produtiva na administração do Corinthians a partir da queda para a Série B. A dívida não foi paga (quase R$ 180 milhões) como foi prometido em campanha, mas o Timão triplicou receitas com estratégias agressivas de marketing, construiu um moderno centro de treinamentos e, em 2013, inaugurará a tão sonhada “casa própria” de 30 milhões de fiéis.
O presidente que contratou as estrelas Ronaldo, Roberto Carlos e Adriano, e colocou o Corinthians no cenário internacional, reconhece que esqueceu de uma das grandes forças do clube, a formação de jogadores. Entretanto, promete que seu grupo político, favorito a sucedê-lo nas eleições de fevereiro, fará uma reestruturação do departamento amador para fortalecer ainda mais a equipe profissional.
– Em cinco ou seis anos, 80% do time será base – garantiu.
Com quatro títulos, Andrés Sanches se despede do Timão no dia 15 de dezembro e passa o bastão a seu vice Roberto de Andrade até que o novo presidente seja eleito em 2012. Depois, quer curtir os filhos e esquecer os problemas de um ano em que precisou até superar um câncer maligno em meio ao Brasileirão. Em 2012, o ex-feirante que tentou ser lateral-direito deixa de ser o Andrés do Timão para assumir a chefia de Seleções na CBF, caminho mais do que aberto para o aliado de Ricardo Teixeira ser o novo presidente da entidade em 2015.
– No futuro, pode ser. Mas acho que têm algumas pessoas na minha frente – admitiu.
GLOBOESPORTE.COM: Como você avalia os quatro anos que ficou no comando do Corinthians?
Andrés Sanches: Eu nunca prometi títulos, até pela situação que o clube vivia. Prometi a reestruturação do clube e do futebol. O estádio veio também, mas, talvez, nem nos meus melhores sonhos isso existia. Sinto-me realizado, saio de cabeça erguida, com o sentimento de que fiz o melhor possível para o torcedor, que resgatou a dignidade de ser corintiano.
Você sempre reclama do cansaço de ser presidente. Como foi deixar de ser anônimo para ser um dirigente famoso?
Preço caro é o cargo, você fica 24 horas envolvido, não tem tempo para nada. Infelizmente, se tornar uma pessoa pública neste país é pagar um preço caro, é desumano até. Esse é o maior sentimento de tristeza e amargura que eu tenho. Mas faz parte do processo. Procurei fazer o melhor possível.
Pouca gente sabe, mas você precisou superar um câncer em 2011...
Tive um melanoma maligno (pior tipo de câncer de pele) que descobrimos a tempo e tirei. São coisas que nós passamos na vida. O meu maior ídolo, que é o Lula, está passando por algo muito mais grave que o meu. Com certeza, desde domingo ele está mais feliz e forte para aguentar tudo que vem pelos próximos meses. Se Deus quiser, nos próximos meses ele estará firme e forte com todos nós.
(Foto: Marcos Ribolli / GLOBOESPORTE.COM)
Falando do futebol, qual você considera o principal erro de sua gestão?
Talvez, não demos a atenção que deveríamos ter dado à categoria de base. Até pela construção do estádio tivemos que tirar a base de Itaquera (o clube alugou o alojamento do Flamengo-SP, em Guarulhos). Agora, começamos a construção do CT ao lado do profissional. Espero que em um ano e meio o CT esteja pronto e vamos poder cobrar a revelação de grandes jogadores. Pelo nosso projeto, em cinco ou seis anos, até 80% do time será formado na base. Estamos montando centros de treinamento em várias partes do Brasil e do mundo para garimpar o máximo de jogadores jovens para o Corinthians.
Um dos pontos principais da sua gestão foi o aumento do valor dos ingressos, como a área vip por R$ 180 . Você elitizou o “Time do Povo”?
Acho ridículo quem comenta isso. Meu ingresso (arquibancada) custa R$ 30 reais. O Fiel Torcedor paga R$ 18 ou R$ 19 e tem a meia-entrada por R$ 15. Sei que alguns corintianos podem pagar mais e vão em lugares um pouco mais privilegiados. Se isso é elitizar, elitizei. Estou preocupado em fazer o que é melhor para a sociedade corintiana. Ninguém deixou de ir aos jogos. Os jogos estão sempre lotados.
Isso quer dizer que os preços vão subir ainda mais quando for inaugurado o estádio de Itaquera?
Em alguns setores, sim. É óbvio. Os setores populares vão continuar iguais, como é o padrão do Brasil.
Em quatro anos, sua administração aumentou muito a receita do futebol. Como você vê o futuro do clube?
Em quatro ou cinco anos, vamos ser um dos clubes mais estruturados e ricos do futebol mundial. Tenho convicção disso. É só não mudarem muito o planejamento e seguirem o projeto que está feito. Espero que meu sucessor seja o Mário Gobbi (candidato da situação) para segurar jogadores.
O Corinthians trouxe ao Brasil jogadores que estavam em declínio na Europa, como Ronaldo, Roberto Carlos e Adriano. Com esse crescimento das receitas, você considera que já é possível brigar com os grandes clubes da Europa?
Hoje, se não for 100%, são 75% ou 80%. Em um ano ou dois, o Corinthians poderá brigar de igual com qualquer clube do mundo. Não precisamos vender jogadores. Se for possível fazer o que fizemos com o Leandro Castán (adquiriu os direitos pertencentes ao Barueri e ao empresário Giuliano Bertolucci), vamos comprar a parte dos parceiros para que eles não tenham prejuízo. Nos próximos anos, teremos muito mais porcentagem de qualquer jogador.
grandes tacadas do cartola (Reprodução/Twitter)
O Ronaldo foi fundamental para que sua gestão desse certo? Como será a ligação dele com o clube sem você no poder?
Não digo que ele foi fundamental. Ele foi um dos pilares importantes. O mais importante é que ele vai continuar agregado ao Corinthians como um parceiro. É bom para o Corinthians e para ele. São duas marcas fortíssimas. Unidas, elas serão ainda mais fortes.
Você deixa o Corinthians sem o título da Libertadores. Você acredita que a pressão em 2012 vai ser ainda maior que em 2011, quando a torcida protestou pela eliminação contra o Tolima-COL?
O torcedor está mais consciente. A Libertadores não vai ser a loucura que foi nas últimas edições. O torcedor aprendeu que o clube precisa disputar vários anos para conseguir conquistar. Mesmo se a conquista não vier ano que vem, vamos sair aplaudidos do jogo que perdemos, se assim acontecer. Só não pode ser a catástrofe que foi contra o Tolima. Se houve uma pressão maior, temos de entender porque o futebol é paixão e ela extrapola alguns sentimentos. Mas o Corinthians vai entrar fortíssimo.