Quando mudou-se da Califórnia, onde cresceu, para a terra natal de seus pais, a Suécia, Nicklas Ivarsson achou que não fosse mais poder surfar. Descobriu que estava errado, mas entrou literalmente numa fria. Na semana passada, num mar a 5 graus de temperatura, Nicklas tornou-se campeão sueco em um evento que levou quatro anos para voltar a acontecer. Quatro longos anos à espera de o mar subir no país nórdico.
- Meus amigos começaram a rir e não acreditaram que eu fosse realmente disputar um campeonato de surfe na Suécia. Acharam que não houvesse ondas aqui. Elas demoram a aparecer, mas existem. Por isso, a gente tem que aproveitar até quando der. Só paramos quando começam a aparecer blocos de gelo na água - diz Nicklas.
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Não é exagero. Na Suécia, o tamanho das ondas segue quase sempre o caminho inverso do termômetro. A época em que a temperatura começa a cair é quando o mar sobe. Mas nem sempre o suficiente. A costa do país, banhada por estreitos e pelo Mar Báltico, é normalmente protegida de grandes ondulações. Além disso, boa parte do litoral é cercado por ilhas. Por séculos, foi uma ótima defesa contra invasões. Hoje é um problema para quem quer pegar onda.
- Precisamos saber dois ou três dias antes do fim de semana se teremos com certeza ondulações suficientes por pelo menos seis horas para poder realizar um campeonato. Nós simplesmente não tivemos ondas ou um prognóstico certo nos últimos quatro anos para que o evento pudesse ocorrer - explica Jonas Lilja, da Associação Sueca de Surfe.
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O cartaz do campeonato de 2011 dizia que ele aconteceria em algum momento entre junho e dezembro. Quase no fim do prazo, no último fim de semana de novembro, as ondas chegaram. Entre 3m e 4m, trazidas por uma tempestade batizada "Berit", que fez com que as autoridades aconselhassem os moradores do sul do país a não saírem de casa. Enquanto isso, 54 surfistas e 300 espectadores encaravam o mau tempo em Stenstrand (literalmente, a "praia de pedras"), a 1h30m de carro da capital Estocolmo. Tudo muito rápido porque às 15h já escureceu nessa época do ano.
- Lá dentro eu nem senti muito frio. Estava com uma roupa bem grossa, de 6.5mm, para águas geladas. Foi uma experiência incrível. Sem falar que eu não tinha a menor expectativa de vencer. Não acho que tenho talento para tentar ganhar a vida no surfe. Pego onda para me divertir - diz Nicklas Ivarsson.
O surfista garante que o Brasil está nos seus planos.
- Conheci um brasileiro quando surfava em San Sebastian, na Espanha, e ele me contou sobre vários lugares no Brasil. Fiquei curioso. Espero um dia poder ir lá. Mas, no momento, a prioridade é arrumar um carro para poder ir atrás das ondas aqui na Suécia nesse fim de ano.

Existe apenas surfista sueco no circuito profissional, Freddie Meadows, atualmente 39º colocado no ranking europeu da ASP. Ele não esteve no campeonato em Stenstrand, que teve 44 participantes no masculino, número recorde. No feminino, porém, Eugenia Perez precisou superar apenas duas adversárias para ficar com o título.
Os planos para 2012 são receber ainda mais concorrentes. Desde que o mar ajude ou alguma tempestade apareça.
- Já discutimos a possibilidade de realizar o campeonato no exterior, como fazem em alguns países. Mas nós resistimos. Queremos que o Campeonato Sueco aconteça na Suécia. Se for possível, é claro - afirma Jonas Lilja.